top of page
Foto do escritorRafael Braz

"Griselda", da Netflix, é ótimo drama baseado em fatos




Quando “Griselda” tem início, a tentativa de conectá-la a “Narcos” é imediata. Antes mesmo da primeira imagem da minissérie da Netflix ganhar a tela, surge a impactante frase de Pablo Escobar: “O único homem de quem já tive medo foi uma mulher chamada Griselda Blanco”. Além disso, a série ainda tem todos seus episódios dirigidos por Andrés Baiz, responsável por diversos episódios de “Narcos” e “Narcos: México”, e conta com texto de Eric Newman, que também trabalhou em ambas as séries.


A comparação, por mais que seja óbvia e até faça sentido, não é justa com a nova série da Netflix. “Griselda” é muito mais uma tragédia grega em três atos sobre a narcotraficante Griselda Blanco do que uma narrativa ao estilo “Narcos” – a série protagonizada pela ótima Sofia Vergara não traz aquele estilo que José Padilha imprimiu à marca, a narração em off e um aspecto semi-documental para dar credibilidade à história.


“Griselda” tem início com a protagonista entrando em casa, desesperada e suja de sangue. Griselda quer deixar a Colômbia e, então, pega os três filhos e parte para Miami, onde encontra Carmen (Vanessa Ferlito), uma velha amiga que deixou o tráfico e tem uma agência de viagens na Flórida. Griselda tem um plano: vender um quilo de cocaína colombiana pura para fazer dinheiro e reiniciar a vida com seus filhos, mas as coisas, claro, não saem como o planejado.


A série da Netflix faz algumas boas escolhas, como introduzir a protagonista já com um grande conhecimento do tráfico internacional de drogas – anos antes, ela já estabelecera uma rede de tráfico de cocaína em Nova York, mas precisou voltar para a Colômbia para não ser presa. Assim, quando a conhecemos, Griselda não é uma jovem inocente, mas uma mulher marcada por uma relação tóxica que recorre a uma saída que sabe que lhe dará frutos.


Em seus seis episódios, “Griselda” tem três atos bem definidos e separados por saltos temporais. Primeiro, acompanhamos Griselda se estabelecer em Miami e ascender no submundo, um universo extremamente masculino. Passado o conflito inicial, vem o reconhecimento, a glória ao conquistar um lugar no intocável panteão dos deuses. Ao fim, porém, tempos o desenvolvimento para a inevitável catástrofe.


Muito da minissérie se passa na chamada Guerra de Cowboys da Cocaína da primeira metade dos anos 1980, quando grupos distintos buscavam o domínio da região da Flórida e a cocaína se tornava popular nos círculos sociais dos mais ricos. “Griselda”, assim, abusa da estética oitentista, mas sem os exageros habitualmente cometidos por produções ambientadas nesse período. A série usa uma imagem granulada e um formato de tela com barras laterais para emular, ao menos um pouco, as dimensões da época.


O fato de ter uma atriz adorável no papel de uma cruel traficante ajuda a colocar o espectador do lado da personagem, ao menos a princípio. A protagonista é uma mulher nascida na dor, uma filha de uma profissional do sexo que, segundo relatos (negados por ela), acabou seguindo os passos da mãe. Segundo jornalistas colombianos, aos 11, Griselda já havia sequestrado e matado um jovem rico. Ela ficou também conhecida como A Viúva Negra pelo fato de seus maridos não viverem por muito tempo, mas isso é pouco explorado pelo texto.


É interessante que, mesmo amenizando as cicatrizes de Griselda, a série não exclui partes importantes da história, muito pelo contrário: os episódios finais são cruéis a ponto de perdemos a tal identificação inicialmente construída por Sofia Vergara.


“Griselda” mistura fatos e ficção para transformar tudo em uma narrativa mais simples, principalmente a chegada de Griselda a Miami. Ainda assim, muitos de seus momentos mais bizarros e assustadores são reconstruções de acontecimentos reais. A policial June Hawkins (Juliana Aidén Martinez), por exemplo, não apenas é uma personagem real como também participou como consultora da série. Em tela, Griselda e June antagonizam como duas mulheres latinas subestimadas em suas áreas, em lados distintos, mas com um vínculo, um reconhecimento no olhar.


Ao fim, “Griselda” é uma série bem enxuta e concisa de uma das maiores traficantes que o mundo já viu. Griselda foi cruel com rivais e até aliados, ordenando assassinatos à medida que ascendia no mundo do crime, mas também foi mãe de quatro meninos. Para quem já conhece a história, a minissérie é uma boa versão mais pop, mas ela parece destinada mesmo para os não-iniciados no violento universo de Griselda Blanco, um público pronto para o impacto da história.

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page