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Foto do escritorRafael Braz

"O Véu": Criador de "Peaky Blinders" entrega boa minissérie de espionagem



A reação imediata a se ter com “O Véu” é compará-la a “Homeland”. Assim como a ótima série estrelada por Claire Danes, injustamente abandonada por muitos espectadores bem antes de seu ápice, a lançada agora pelo Star+, estrelada por Elizabeth Moss (“The Handmaid’s Tale”), traz uma operativa ocidental às voltas com uma possível ameaça islâmica. Tal qual a Carrie de “Homeland”, que na primeira temporada constrói forte vínculo com seu “alvo”, o coronel Nicholas Brody, a Imogen de “O Véu” e a suposta ameaça criam um vínculo, uma relação que se torna o centro da trama. 


Criada por Steven Knight (“Peaky Blinders”) como uma minissérie em seis partes, “O Véu” tem início com Elizabeth Moss, com um sotaque britânico horrível, mas que deve facilmente passar despercebido por aqui, chegando para um encontro no aeroporto. Ao se sentar com um estrangeiro, com quem se relaciona há cerca de um mês, ela apenas informa que a Interpol está a caminho; ele fica indignado, claro, enquanto ela caminha para longe com um leve sorriso no rosto e cheia de marra.


Mesmo de forma não muito funcional, essa leve introdução é necessária para entendermos o modus operandi de Imogen a partir dali. Ela parte para um campo de refugiados na fronteira da Turquia com a Síria, para tirar de lá Adilah El Idrissi (Yumna Marwan), uma mulher que, após identificada como integrante do Estado Islâmico entre os refugiados, é linchada e deixada à beira da morte.



Imogen tira Adilah de lá e ambas partem em uma viagem de carro de volta para a Turquia.  Em paralelo, em Paris (mesmo que a protagonista seja do Serviço Secreto britânico), há outra trama, com a chegada do agente americano Max Peterson (Josh Charles) para coordenar a caçada à terrorista. 


É neste momento, inclusive, que “O Véu” perde força, com conflitos pouco interessantes e que talvez funcionassem no início dos anos 2000, mas que, hoje, soam apenas como piadas ultrapassadas sobre diferenças culturais – o americano é bobo, orgulhoso de sua falta de cultura, mas muito superior aos europeus no que faz. Assim, os franceses não têm como não se render à parceria, mesmo que os interesses não sejam exatamente os mesmos.


O texto se constrói justamente em cima desses interesses não revelados. Adilah pode ou não ser quem procuram, mas Imogen também pode ou não estar dizendo a verdade quanto a suas intenções. Entre uma revelação e outra, “O Véu” tem bons momentos de tensão clássica de tramas de espionagem, com aquela sensação de ameaça constante, de que algo está prestes a acontecer. 


O melhor da série, porém, está na construção da relação entre as protagonistas. Elizabeth Moss tem carisma o suficiente para conduzir esse arco, para tornar crível que sua personagem esteja ganhando a confiança de Adilah, fazendo-a falar e se abrir. A sacada do roteiro é fazer com que haja reciprocidade, como se Adilah também estivesse tentando quebrar o escudo de Imogen, e talvez realmente o esteja.



“O Véu” é convencional em sua trama de espionagem, mas é exatamente isso que a série busca. O que trata como diferencial é o lado humano, com duas mulheres sobreviventes, em situações distintas, mas ambas lidando com traumas e com as consequências de uma vida fingindo ser outras pessoas. Quem são Imogen e Adilah, se nem ao certo sabemos seus verdadeiros nomes? 


É nessa construção, e no carisma das protagonistas, que a série vale a pena, principalmente se deixarmos de lado todo o núcleo masculino, que parece intencionalmente mal desenvolvido, da mesma forma que qualquer profundidade na trama de política internacional, que mistura Rússia, Estado Islâmico e agências ocidentais de espionagem.


Ao fim, se busca uma série mais séria, mas a qual não precisa dedicar tanto esforço ou tanto tempo de sua vida, “O Véu” é uma boa escolha. Como trama de espionagem, a série não passa perto de “The Americans” ou “Homeland”, que tiveram várias temporadas para se desenvolver, mas funciona como um bom entretenimento para um feriado na frente da TV.


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