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Foto do escritorRafael Braz

Sucesso na Netflix, “As Ladras” se envergonha do que de fato é

Atualizado: 31 de jan. de 2024



Há uma ironia latente em “As Ladras”, filme francês lançado pela Netflix. Apesar de o título entregar o óbvio e do roteiro adaptado da HQ de Jérôme Mulor, Florent Ruppert e Bastien Vives ser todo construído como uma trama de assalto, o filme dirigido por Mélanie Laurent parece se envergonhar do gênero em que se encaixa. Buscando ser algo mais complexo, porém, ele fracassa.


Isso não significa, que fique claro, que “As Ladras” seja um filme artístico, trata-se de um cinema pop, de fácil consumo e nada complicado. O filme acompanha Carole (Mélanie Laurent) e Alex (Adèle Exarchopoulos), duas talentosas ladras, cada uma com suas habilidades características. Quando o destino prega uma peça em Carole, ela precisa sair daquela vida, mas antes, claro, um último grande roubo para o qual elas precisarão de uma piloto de fuga, Sam (Manon Bresch).


Boa parte das quase duas horas de filme tem exatamente o que se espera dele: a construção de um plano, o recrutamento, a curva de aprendizado da novata e a ação, mas Laurent busca um tempero diferente, um filme mais pessoal. A ideia parece ser usar todo o resto para construir relações, mostrar o que de fato importa, uma escolha que não é ruim e que poderia resultar em algo bem interessante com um texto melhor, mas não é o caso.


“As Ladras” usa muletas de roteiro na sua busca pela humanização das personagens – a maternidade, a falta de afeto familiar, a rebeldia diante de um sistema opressor que as leva às margens da sociedade. Nada disso, porém, é muito desenvolvido, o que é um desperdício, principalmente em função das boas atuações de Laurent e Exarchopoulos.

As oportunidades desperdiçadas ficam claras para o espectador em dois momentos distintos. Primeiro, quando as três protagonistas se encontram em um balneário e Alex conhece um rapaz; o resultado é uma ótima e inesperada cena de ação, mas o desenrolar da situação é ruim. Em outro momento, quando o filme parece de fato abraçar o cinema de assalto, Laurent opta por excluir o espectador da ação, contrariando toda máxima de encontrar uma maneira esperta de trazer o público para o filme.


“As Ladras” tem boas personagens e até funciona como o filme de relações que a diretora quis entregar, principalmente se focarmos em Alex e Carole. O filme traz bons momentos de cumplicidade entre as duas e busca reforçar a amizade e a camaradagem entre as duas mulheres da mesma forma que o cinema faz com homens há mais de um século. Vale ressaltar que o filme é muito melhor quando se dedica à construção e ao desenvolvimento dessa relação, o que também vale para a chegada de Sam, mas em menor escala.


Essa relação, no entanto, não segura o filme no que ele se propõe. “As Ladras” não se entende ao certo, não sabe o que pretende ser, um filme de ação, uma obra de assalto ou uma afetiva comédia com bons diálogos. Há bons momentos autorais em todos esses arcos, mas a mudança constante do tom causa um estranhamento.


Quando o filme de Mélanie Laurent chega ao fim, é impossível não se incomodar com as soluções encontradas pelo texto. Buscando emocionar, “As Ladras” sai de um final ousado para algo sem explicação alguma, apresentando uma resolução que parece se envergonhar de um gênero e perdendo uma grande oportunidade de parecer mais esperto do que de fato é.


1 comentário

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1 Comment


Roberto Szabunia
Roberto Szabunia
Oct 30, 2024

Pois olhe só, ao fazer meu resumo/avaliação, fiquei em dúvida na hora de catalogar: policial, comédia, drama ou aventura. Suspense? Não. Optei por policial. Dei um "muito bom", pois o filme atrai a atenção o tempo todo, não deixa o espectador perceber que tem duas horas. Além disso (mão erguida, em sinal de admissão de culpa), sou muito fã da Adèle; filme com ela já começa com quatro estrelas.

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